Maria João Neto tem mestrado em Ciências Farmacêuticas na Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra e atualmente trabalha como Medical Science Expert na Merck Group. Motivada pelo impacto positivo que medicamentos inovadores podem ter na vida das pessoas e pela experiência pessoal de conviver com alguém com cancro, a Maria conta-nos como decidiu dedicar-se à partilha científica com profissionais de saúde na área da oncologia, desempenhando um papel muito importante na educação médica, adoção de inovação e a dar esperança a muitos doentes que dela precisam.
Qual a sua função na empresa?
Comecei na Merck há 3 anos sendo a minha atual função MSE (Medical Science Expert). Essencialmente, o que isto quer dizer é que faço parte do departamento médico da área de oncologia e que atuo como parceira científica quer interna – prestando, por exemplo, formação científica à equipa – quer externa – interagindo com profissionais de saúde numa partilha científica bidirecional e regular. O meu maior foco passa por garantir que os profissionais de saúde estão informados sobre os avanços mais recentes nas nossas áreas de atuação, através da implementação de atividades de educação médica, resposta a pedidos de informação médica-científica e interações científicas sobre o mecanismo de ação, eficácia e segurança de um fármaco e respetiva doença. Estas interações, preferencialmente presenciais, são cruciais para entendermos as necessidades e desafios que os nossos médicos/enfermeiros/farmacêuticos têm no seu dia-a-dia, permitindo-nos adaptar e melhorar continuamente a nossa resposta a estas necessidades.
Como se interessou por esta área?
Em 2012, entrei no Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas na Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra e durante o curso acabei por perceber que a área da indústria farmacêutica era o que mais me interessava. A possibilidade de trabalhar com medicamentos inovadores e contribuir para o avanço da medicina e consequente impacto na vida de muitos doentes foi algo que me motivou bastante. Durante o mestrado, fui exposta a várias áreas, desde farmácia hospitalar a farmácia comunitária, mas acabou por ser a indústria farmacêutica que mais me cativou. No entanto, como nunca quis perder a ligação à ciência, sempre tive mais interesse por funções dentro do departamento médico e iniciei a minha carreira nesta área com um estágio. Este permitiu-me ter uma visão prática do papel que o departamento médico desempenha dentro de uma empresa o que acabou por validar a minha vontade de trabalhar e desenvolver nesta área em específico.
Trabalhar na área de oncologia tem um significado especial para mim. Infelizmente, todos conhecemos alguém que já enfrentou uma luta contra o cancro e são momentos que nos marcam. Esta experiência pessoal acabou por despertar o meu interesse de trabalhar numa área que procura dar uma nova esperança a muitos doentes. Hoje em dia, oncologia é das áreas da medicina com mais investigação e desenvolvimento, o que significa que tenho a oportunidade de fazer parte de muitos destes avanços que prolongam e melhoram a qualidade de vida dos doentes. A possibilidade de acompanhar o impacto direto que estas inovações científicas têm na vida das pessoas é, sem dúvida, bastante gratificante.
Um desafio que a empresa enfrentou e como contribuiu para o resolver?
Desde que estou na Merck, sinto que um dos maiores desafios que enfrentámos foi lançarmos um novo produto na área de oncologia, especificamente para uma mutação rara, numa área completamente nova para a equipa e num contexto ainda de muitas restrições devido à COVID-19. Lançar um tratamento inovador num momento em que o contacto direto com os profissionais de saúde estava limitado exigiu bastante adaptação e inovação. Este novo fármaco acaba por ser o primeiro aprovado na Europa para o tratamento desta doença e para a qual não havia, até então, um tratamento dirigido. Isto acaba por ser desafiante por si só, uma vez que existe a necessidade de tornar o medicamento acessível aos doentes que dele podem beneficiar. Uma das soluções passou por organizar sessões clínicas em vários hospitais do país, incluindo em formato virtual, para podermos chegar a mais profissionais de saúde no menor espaço de tempo possível. Sinto que o meu contributo, enquanto palestrante destas sessões, teve um grande impacto na atualização e aumento de consciencialização dos profissionais de saúde para os benefícios desta nova molécula em oncologia. No entanto, só com o esforço conjunto de toda a equipa para garantir que os profissionais de saúde estivessem preparados para utilizar o novo fármaco é que foi possível termos um lançamento bem-sucedido.
O que a move na Merck Group?
Gosto de poder ter a oportunidade de fazer a diferença na vida dos doentes e saber que o meu trabalho permite que tratamentos inovadores cheguem aos doentes. A possibilidade de impactar positivamente a vida dos doentes com cancro em Portugal é, sem dúvida, uma fonte contínua de motivação.
Além disso, saber que faço parte de uma empresa que investe no desenvolvimento dos seus colaboradores e que a sua cultura tem por base a inovação científica, acabam por ser aspetos que valorizo e com os quais me identifico.
No entanto, costuma-se dizer que o que faz as empresas são as pessoas e, honestamente, não podia estar mais de acordo. É uma realização saber que o meu trabalho pode ter impacto no dia-a-dia de doentes com cancro, mas poder fazer isso rodeada de uma equipa de pessoas que admiro e que me fazem crescer pessoal e profissionalmente todos os dias é o que me motiva e inspira para dar o meu melhor. Trabalhar numa equipa assim é algo que, na minha opinião, não tem preço e o que nos permite ser a nossa melhor versão.
Se não tivesse seguido esta área, que outra teria seguido?
Lembro-me de querer ser bióloga marinha quando era mais nova, motivada principalmente pelo meu fascínio por animais e pelo mar. Por outro lado, houve uma altura em que queria alguma coisa relacionada com o desporto, uma vez que este sempre teve um papel importante na minha vida e pratiquei várias modalidades ao longo da minha vida, como surf, ténis e dança contemporânea. Ainda hoje o desporto faz parte do meu dia-a-dia, por isso, acho que poderia ter sido uma área que também me traria realização
—
Este artigo faz parte da celebração dos 25 Anos da P-BIO.
Siga #PBIO25 nas redes sociais e celebre a Biotecnologia connosco!
P-BIO
9 de agosto de 2024